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Oxum: Senhora das Águas Doces, do Ventre e do Poder Feminino


Mulher negra toda vestida de dourado, com muitas jóas e adornos dourados, sentada em um pedra dentro de um rio com uma cachoeira no fundo

Oxum, divindade das águas doces e da fertilidade, é mais do que uma entidade ligada ao amor e à beleza.

Ela é o princípio feminino que sustenta a vida, que cura com suavidade e ensina com firmeza. Seu nome vem de um rio da região de Oxogbô, em Ijexá, na Nigéria — um rio que é considerado sua morada ancestral.

Mas Oxum não pertence apenas a um curso d’água. Ela é dona de todas as águas doces: rios, lagoas não pantanosas, nascentes e, sobretudo, das cachoeiras, onde recebe suas oferendas com flores, comidas e segredos.

Seu elemento é a água em movimento contido — um fluxo sereno, mas nunca parado.

É por isso que, espiritualmente, Oxum também rege os sentimentos que correm no nosso interior: sensíveis, profundos, ocultos, mas sempre em movimento.



À Oxum pertence o ventre da mulher.

Ela não apenas controla a fecundidade: ela é a própria fertilidade. As crianças lhe pertencem, e por isso é a ela que se recorre nos momentos de gestação, desejo de engravidar, ou quando há problemas no útero, como miomas e cistos.

Oxum preside a menstruação, a gravidez e o parto.

E nos ritos de iniciação do Candomblé, ela está presente como guardiã da gestação espiritual: é através dela que nasce uma nova vida, uma nova identidade, uma nova relação com o sagrado.

Oxum ensinou que a menstruação não é vergonha, mas sim símbolo do poder feminino — um poder que sangra, mas não se rompe.


Graça, vaidade, elegância, beleza e uma certa preguiça definem a energia dos filhos e filhas de Oxum.

São pessoas que prezam por tudo que é bom, bonito e caro: perfumes, joias, roupas vistosas.

Tendem a gostar de festas, de vida social, de tudo o que envolve prazer — mas sempre com discrição.

Detestam escândalos, e sua vida sexual intensa é cuidadosamente protegida. Mesmo quando profundamente apaixonadas, mantêm o amor-próprio acima de tudo. São vaidosas, refinadas, e jamais esquecem de seus objetivos.


Oxum é o arquétipo daqueles que agem com estratégia: doces por fora, determinadas por dentro. Obstinadas, diplomáticas e muito sensíveis à opinião pública, sabem contornar conflitos com habilidade e inteligência emocional.

O lado espiritual dos filhos de Oxum também é aguçado.

Não à toa, muitas das maiores Yalorixás da história do Candomblé são ou foram de Oxum. A presença desse Orixá confere um dom natural para conduzir com elegância, ouvir com profundidade e curar com gestos pequenos. Até o silêncio de quem carrega Oxum fala — e toca.


Têm também uma tendência simbólica à prosperidade: gostam de comer bem, de viver bem, e muitas vezes carregam o corpo mais cheio, refletindo essa abundância em si mesmas: são a imagem do prazer bem vivido, do ouro bem usado, do amor bem cuidado. Como Oxum, escondem força sob o riso suave e poder sob o perfume doce.


No mito iorubá mais conhecido, após a criação do Àiyé (Terra), uma reunião entre os Orixás foi convocada para definir seu destino. Apenas os Orixás masculinos foram chamados. Oxum, ao saber da reunião, questionou por que não fora incluída. Oxalá respondeu que aquela era uma decisão dos homens. Contrariada, Oxum retirou suas águas doces do mundo.

As terras secaram, as mulheres deixaram de engravidar, e a fome se espalhou. Através de Exu, os humanos clamaram por socorro. Os Orixás, então, foram até Olodumaré — o Ser Supremo — que os questionou: vocês convidaram Oxum, a própria fertilidade, para decidir o destino da vida? Quando ouviram o não como resposta, Olodumaré ensinou: sem Oxum, nada cresce sobre a terra. E assim, os Orixás masculinos buscaram Oxum, reconhecendo seu poder e convidando-a a ocupar o lugar que sempre foi seu — o centro da vida.

Oxum devolveu suas águas ao mundo, e a fertilidade voltou com ela. Esse itan (lenda) mostra que, para os iorubás, sem o feminino não há criação. Sem matriarcado, não há equilíbrio. Sem Oxum, o sagrado se seca.


A partir desse mito, compreendemos que Oxum não é só dona do amor e da vaidade: ela é fundamento. Sua ausência desorganiza o mundo. Sua presença gera vida. E é por isso que, dentro das religiões afro-brasileiras, seu domínio não se limita aos rios. Pertence a ela o cuidado com o ventre, com a mulher, com o nascimento e com os caminhos da prosperidade.

Ela cura o corpo, a alma e o destino. E tudo isso ela faz com silêncio, beleza e firmeza — sem estardalhaço, mas com uma força que nenhum outro Orixá ousa ignorar.


Oxum também é representada por símbolos de realeza: seu abebé (leque com espelho) é o instrumento que revela sua soberania. Com ele, ela observa o mundo e também se observa.

Porque quem carrega Oxum sabe que o cuidado com o outro começa com o cuidado com a própria imagem.


Seu dia é sábado, suas cores são o amarelo e o dourado, e sua saudação é Òóré Yéyé ó!

Quando se acende uma vela dourada às margens de um rio com reverência, Oxum responde.

Não com trovões — mas com caminhos que se abrem onde antes havia dúvida. Com curas que chegam onde havia dor. Com fertilidade onde havia seca.

Com espelhos que devolvem a verdade que você havia esquecido de enxergar.

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